Uma campanha publicitária internacional da Petrobrás exibiu em 2011 fotografias do Rio de Janeiro, de Nova York e de Paris a 6 mil metros de altura, em alusão aos 6 mil metros de profundidade de onde a empresa irá extrair óleo da camada pré-sal. Em destaque na imagem do Rio a praia de Copacabana e o Pão de Açúcar. Mais ao fundo a Zona Sul e Norte com o Cristo Redentor e o Maracanã. Faltaram, porém, as dezenas de favelas que compõem o cenário da região. Só no Rio uma parte da cidade foi apagada com recursos de edição de imagem.
Também em 2011 uma matéria do jornal O Globo noticiava que, a pedido da Prefeitura do Rio, o Google iria diminuir a presença das favelas no seu serviço Google Maps. O fato se concretizou em 2013, com a exclusão da palavra “favela” em praticamente todo o mapa, a hierarquização das informações com as favelas reduzidas ao mesmo destaque das ruas e o sumiço de algumas comunidades. Em 2010 já haviam sido erguidas barreiras acústicas, ou muros, nas duas principais vias expressas de ligação do aeroporto Internacional do Galeão ao Centro/Zona Sul e Barra da Tijuca. Uma pesquisa revelou a percepção dos moradores e dos motoristas que passam pelas vias: o muro está servindo muito mais como barreira visual, não como barreira acústica.
Esses fatos não são coincidências, e a tentativa de invisibilizar os pobres e a pobreza no momento em que o Rio de Janeiro se prepara para receber grandes eventos internacionais também não se limita ao plano simbólico. Para 30 mil moradores da cidade, a remoção virtual do mapa do Google está se tornando real. Segundo dados do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas, cerca de 8 mil pessoas já foram removidas, e cinco comunidades não existem mais. O procedimento é semelhante em toda a cidade: envio de famílias para periferia com oferta precária de serviços básicos, como transporte, baixo valor de indenizações e forte pressão da especulação imobiliária.
Um outro braço dessa política se estabelece sob o discurso da ordem pública, que com a mesma truculência mistura diferentes questões como estacionamento irregular, população em situação de rua e trabalhadores informais. No bairro da Glória, onde foi instalada uma Unidade de Ordem Pública (UOP), há dezenas de guardas nas esquinas para que o famoso shopping chão, onde se podia encontrar antiguidades e quinquilharias sendo vendidas na calçada, não se instale mais. Os camelôs receberam autorização para trabalhar apenas em locais que ninguém passa e sumiram, assim como a população em situação de rua, que foi recolhida. O que acontece com essas pessoas? São levadas para abrigos longínquos, várias vezes. A estratégia é cansá-las para não voltar mais, como disse o subprefeito Bruno Ramos.
A UOP é inspirada na UPP, as Unidades de Polícia Pacificadora que cada vez mais mostram sua face de controle militar do território ocupado e menos de segurança dos moradores. No dia 20 de março, Matheus Oliveira Casé, de 16 anos, foi morto pela polícia pacificadora em Manguinhos. No dia 4 de abril, Aliélson Nogueira, de 21 anos, também foi assassinado pela polícia pacificadora, agora no Jacarezinho. As edições online dos jornais falavam em tiroteio entre tráfico e polícia, mas Matheus foi morto ao receber um tiro de pistola de choque e Aliélson com uma bala na nuca enquanto comia um cachorro quente. Muitos jornais simplesmente ignoraram o fato destacando na semana a violência contra turistas estrangeiros e como isso gera um impacto negativo para a imagem da cidade.
A invisibilização que sai do plano simbólico para o real atinge um público bem específico, a juventude pobre e negra da cidade, principal alvo do encarceramento em massa em curso no Brasil. Em 1995, havia 148 mil presos no país, número que subiu para 473 mil em 2009. O Brasil possui hoje a terceira maior população carcerária do mundo e a prisão começa a virar negócio, com os presídios privados. Como tudo se justifica pela realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas, foi anunciada a compra de caveirões e a construção de novos presídios no Rio de Janeiro para a segurança dos grandes eventos. É a solução dada para essa parcela da população que não serve à cidade olímpica, que deve ficar bem longe, nos conjuntos habitacionais construídos fora da cidade, ou simplesmente sumir, presa ou executada pela ação da polícia.
Mas o brilho dos grandes eventos esportivos começa a esmorecer, o marketing não consegue sustentar uma imagem construída sobre base tão frágil, e aos poucos a cidade real se impõe. Para mudar a realidade do Rio de Janeiro não basta ostentar teleférico em favela enquanto falta saneamento básico nas casas fotografadas pelos turistas. Não basta acesso a bens de consumo se falta habitação. E não basta habitação sem cidade. Para construir uma outra realidade social há muito trabalho pela frente, e no momento em que há recursos disponíveis para de fato se iniciar uma mudança profunda na cidade, eles são drenados para obras de prioridade questionável ou para destruir a infraestrutura já existente, como no caso do Maracanã e da Perimetral, sem qualquer debate público. O Rio de Janeiro está no caminho errado, e talvez por isso queira tanto esconder a pobreza da cidade. Mas como disse uma moradora da Maré: “O que adianta esconder? A gente existe, não adianta esconder não”. Pois é, recado dado.
* Renato Cosentino é mestrando do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ, trabalha na organização de direitos humanos Justiça Global e participa do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio de Janeiro.
Não sou adivinha, mas poderia apostar que logo-logo irá surgir um resultado de (falsa) pesquisa de opinião no RJTV dizendo:
1o lugar – Pezão
2o lugar – Lindberg
3o lugar – Garotinho
Vão empurrar mais um novo falso dilema para o povo. Tenho a esperança de que, dessa vez, não deixaremos as forças dominantes nos fazerem de bobo.
Enquanto as pessoas continuarem a aceitar o que a Globo fala como verdade, este quadro não irá se modificar.
Estão todos Comprometidos com a pouca vergonha; Eu liguei para Jornais,emissoras de Radio e televisão,para denunciar a sacanagem que e as obras da trans carioca,ninguém da a minima.
Por favor me ajude que sou perseguida pela polícia e outras pessoas grandes desde abril de 2008, eles me acusam de ladra e pedófila com falsos testemunhos pagos e provas falsas criadas. Eles fazem tudo escondido e cada dia fazem um julgamento conselho para me condenar. Eu jà fui em todos os orgãos de justiça e eles falam para nâo me atender. Eles bloqueiam meus emails e minhas redes sociais e nâo deixa que as pessoas me ajudem, eles envolvem todos a minha volta e pedem que ajude eles.
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Desnudar é realizar o compromisso com a verdade, num mundo de mentirosos, falsos, canalhas….
Uma pena o q estão fazendo com o Rio. Um crime o q estão fazendo com o povo do Rio e seu patrimônio. E o pior vai ser eles usarem tudo isso como propaganda política pós “grandes eventos internacionais”. Estamos entregues às traças. Traças do erário e do resto d dignidade q ainda temos. Seremos saqueados até quando ainda?
Excelente texto, parabéns!
Ótimo texto!
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Não existe mais o que comentar. O povo quer pão? Dai-lhe circo. Alguém se lembra?
Não Olimpiadas16.Discute-se muito o modo desastroso como vem sendo preparada a Copa14. E olha q contamos com forças d todo o Brasil, unidos contra essa opressão e desmandos, impostos à Sociedade em aceitar passivamente os megaeventos. Contudo Não se fala nas Olimpíadas. Este megaevento irá ocorrer apenas no Rio.. alguém já se deu conta? O mundo inteiro aqui no Rio? O q esperamos? Chegar vésperas, qdo será tarde demais? Existe uma REPRESENTAÇÃO [E UMA SÓ] encaminhada, logo após a escolha do RIOdeJANEIRO como sede das Olimpiadas/ 2016. Faz-se um apelo: retomem essa representação. Todos q puderem [quem é brasileiro e ama o Rio – não hesitem]. Trata-se de interesse público [logo está sempre em tempo]. Agora fala-se do desastre da Copa porque está próximo.. e se vai deixar o assunto das Olimpíadas para qdo chegar perto? Será tarde demais! Façamos agora para não nos arrependermos TARDIAMENTE. Eis os dados as coordenadas e o texto da Petição [foi rejeitada de plano, pois a promotora não vislumbrou haver problemas na cidade [é de chorar]”REPRESENTAÇÃO: PROC PROTOC 81404, 28/10/2009, CÓD PROV 13842/2009 (PJ3TCICAP – 3a. PROMOTORIA d JUSTIÇA d TUTELA COLETIVA d DEFESA d CIDADANIA// ref 6o. Centro d Apoio Operacional d Defesa da Cidadania, Consumidor e Proteção ao Meio Ambiente e Patrimônio, c/o segue: ‘Noticiante deseja informação sobre a ilegitimidade da escolha do Rio c/o sede das Olimpíadas/2016, pelas razões: O carioca q reside no Rio não foi consultado da CONVENIÊNCIA DESTE MEGA EVENTO. O FLUXO DE PESSOAS, DO MUNDO INTEIRO, ESTARÁ NUMA CIDADE JA desgastada DESFIGURADA POR SUCESSIVAS OBRAS E Q ACARRETARÁ Gde TRANSTORNO AOS SEUS HABITANTES. ALERTA q AS AUTORIDADES q DECIDIRAM q O RJ SERIA SEDE DAS OLIMPÍADAS, DEVERIAM TER FEITO AMPLO DEBATE d CONTRAS & prós e DADO a CONHECER aos MORADORES da CIDADE TODAS AS DIFICULDADES POR QUE PASSARIAM. DECLARA q OS HABITANTES FORAM, LITERALMENTE, EXCLUÍDOS DESTA CONSULTA. ACREDITA q DEVERIA TER OCORRIDO UM REFERENDO PRA AVALIAR O GRAU d ACEITABILIDADE. OS EFEITOS DESASTROSOS DESTA ESCOLHA JÁ ESTÃO OCORRENDO POR TODA A CIDADE REFÉM DO MEDO, PÂNICO, DESCASO, ABANDONO, FALTA d QUALIDADE d VIDA e do DESMATAMENTO q ESTÁ AVANÇANDO a OLHOS VISTOS d MINUTO A MINUTO. // Após sumária análise veio resultado de ‘indeferimento de plano’ e arquivado. O pedido FOI ÚNICO ENTRE MILHÕES de CARIOCAS. QUEM QUISER – E ACONSELHO – DEÊM UM PULINHO NO MIN PÚBLICO TENTEM REATIVAR com NOVOS PEDIDOS. Quem sabe o povo começando a se pronunciar, NÓS NOS LIVRAMOS das OLIMPIADAS (esta bomba relógio d efeito retardado).
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